quarta-feira, 19 de maio de 2010

Torpor

Em mentes onde habitam a desgraça
O consolo pondera e decide desistir
Afundando em noites rasas e limitadas
Afasto corações simplesmente por existir

Ainda vago no obsoleto iludir
Imaginando o que pode estar por vir
Mais um trago e a bebida acaba
O estrago é duradouro e me faz sentir vida

Passo a passo me aborreço
Onde você esta evito estar
Sorvendo a chuva fina que me faz sentir
O peso do cimento que se estende a tudo

Incapaz de perceber
Adentro a inevitável manhã
Saudado por um gosto amargo na boca
Preparo o que restou de mim para a rotina

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A volta pra casa...

O texto abaixo foi um pouco exaltado, exagerei no sentimento e tentei me expor sincero. Não vale a pena expressar sentimentos aqui e em lugar nenhum, assim como não vale a pena nascer. Não sei o que aconteceu antes, como ganhei à metafórica 'corrida' ou se tive escolha e decidi vir à tona no mundo, me conhecendo como agora e de acordo com meu perfil psicológico dificilmente eu aceitaria entrar, ou melhor sair do útero para viver o cotidiano, a rotina, o dia, a noite ou o que está por aí a minha espera. Optaria por um drink no além, seria um feliz espectador do que está acontecendo e faria piadas cínicas da maneira de como cada um vive... pelo menos de quem minha distorcida visão alcançasse a vida. No dvd, bastaria acessar os extras e assistir com comentários. Não é assim que a ressaca passa, o lado oposto se defende no singular e eu nem sei o que fazer... Peço mais uma cerveja e uma dose de cynar para acompanhar o respingo de ânimo que sobra (e me afunda), a descida pra casa não é tão longa, nem desconhecido, assim imagino. Esse caminho simples está me levando a lugares abstratos absorvendo meu refúgio temporário em frações de segundos, me devolve ao que eu sou. Não gosto mais disso. Paro em outro bar e o processo recomeça, no conforto do meu refúgio ilusório mais uma vez penso... a volta pra casa está cada vez mais longa e tortuosa.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Vende-se amor

Inaceitável! Título deste inativo/irregular blog expressa uma meia verdade sobre o que eu sou. Ser recluso não é necessariamente estar afastado de tudo fisicamente, acho que é mais um estado mental que se apodera da vida, ou da interpretação da vida para alguns, trazendo constantes eventos internos que bloqueiam certos privilégios das pessoas comuns, obviamente impede coisas simples de acontecerem. Quer um exemplo? Amor.
Todo mundo busca um amor, um refúgio, algo para se agarrar, alguém para pedir apoio, simplificando, ninguém quer ficar sozinho. O medo da solidão, de envelhecer e morrer sozinho proporciona a busca pelo seu verdadeiro 'amor', ou ao menos alguém para acompanhar na jornada ao nada em que todos estão envolvidos. Como recluso (acho), egoísta para alguns, sempre optei pelo lado tortuoso da solidão. Não há para quem reclamar e nem porque na verdade já que é opcional esse status... será? Não tenho autonomia nenhuma para falar nada por ninguém aqui, mas falo o que é e o que não é na minha patética vida, isso eu posso afirmar, não tenho e nunca tive intenção nenhuma de ser assim, de seguir pelo lado internamente apático. As coisas acontecem! Boas ou ruins, e o que é ruim está impregnado no que eu sinto e sou. Não consigo me livrar dos pensamentos, lembranças remotas insistem em voltar, rondam todas as decisões que tento tomar, ofusca todos os caminhos que escolho me obrigando a tomar certos cuidados excessivos que prejudicam o desfecho da minha vida. Não acredito em destino, muito menos em sorte! Esse lado cético complementa o pessimismo adquirido com o passar dos anos, e foram anos e anos de cagadas, medos e derrotas internas. Não há quem me conheça bem o suficiente para questionar o que coloquei aqui, isso não quer dizer que não tenho amigos. Sim, tenho muitos amigos, conheço muitas pessoas com quem eu posso contar, de verdade! O único detalhe é que apenas uma fração minha está disponível, tento fazer com isso o melhor possível para me manter em pé, para transparecer alegria e força, para não decepcionar ninguém. Sei que é impossível isso, assim como é impossível conviver comigo. Agora tenho que enfrentar isso na minha válvula de escape também. Sempre que tento escrever, compor, fazer qualquer outra coisa que me dá um certo alívio eu acabo voltando ao mesmo assunto pendente. Quero me livrar disso, quero que minha trégua interna volte para que eu possa descansar um pouco, não consigo mais me livrar disso. Nunca me esforcei tanto para mudar esse meu lado que está cada vez mais forte e agora acho que acabei de fuder tudo, e para piorar não sei como fiz isso. Aconteceram coisas que eu não esperava... (as coisas acontecem, lembra?) como o coma e a morte do meu avô que influenciou muito para que meu lado pessimista tomasse conta da parte ainda 'pura' da minha vida, mas tenho certeza de que não é essa a causa dessa angustia que não vai embora. Diz o clichê que só encontramos o que queremos quando desistimos de procurar. Claro que não concordo com isso e acho que se desistir agora de me livrar disso as coisas vão piorar, lenta e gradualmente. A confusão interna (eterna) está aparecendo em tudo! No meu trabalho, no que escrevo, componho tudo! Eu evito assuntos os mudando constantemente, não consigo nem andar em linha reta, estou mais avoado do que o normal. Sempre vivi em outro mundo, deixando meu corpo circular por aí e até se comunicar com as pessoas, mas dessa vez é diferente, isso tá ficando realmente perigoso e me faz sentir medo de algumas coisas que nunca liguei na vida. Essa é uma parte que não vou especificar aqui, nem em lugar nenhum na verdade, vai ficar perdida num limbo onde estão todos os meus segredos idiotas e insignificantes. Até poderia dar mais indícios disso aqui, é uma forma válida expressão onde posso me livrar de coisas que me afligem em texto e, possivelmente, sendo extremamente otimista, alguém se identifique e a missão vai estar cumprida. Fácil até de mais, né? Pena que não é real... A inconstância vai continuar, a confusão vai continuar... e eu? Sou obrigado a continuar, mesmo mudando constantemente e não definindo nada, mesmo não sendo claro e direto para me livrar de mim mesmo eu vou continuar. A proposta do texto era outra e acabei tomando uma curva em algum lugar que me trouxe até aqui, como vou me livrar disto? Sempre gostei de circular propositalmente o que realmente quero dizer, para sondar o que há ao redor, ver até onde consigo ir e voltar para esclarecer as coisas mais tarde. Hoje isso tá fora do controle. Não vou mais me aprofundar nesse assunto, vou deixar a pendência para noites onde o fundo do copo me indicará o caminho.
Como estou inconstante, indeciso, assustado e sem rumo, não mais me é possível contar com companhia, não sei agradar, não tenho a mínima idéia de como fazer isso e sendo sincero aqui não vou me esforçar em fazer, contradizendo o ponto exposto anteriormente em querer mudar, essa mudança não é no lado sentimental da coisa e sim uma expansão da minha anomalia interna. Ninguém vai entender o que quero dizer com anomalia, mas eu sou uma anomalia ambulante. Portanto, vendo minha cota de amor. Deve existir um punhado destinado a cada um (e olha que nem acredito em destino), a minha parte está à venda, interessados vão saber como comprar, tenho certeza disso.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Induzindo...

Induzindo... Todos que não acreditam em nada para seguir a vida imaginando o que pode acontecer. Eu imagino um projeto envolto em música e bizarrices possíveis apenas na mente de quem mente para sobreviver. Não acredito, podem acreditar, mas acredito que posso acreditar se tomar o rumo certo, só então tudo começa a ficar difícil! Ronda responsabilidade no que deveria ser diversão. Vou passando o meu tempo sem fazer nada até coisas começarem a aparecer, como milagre maravilhoso que mudará para sempre a vida de quem está disposto a se submeter. Mas... submeter-se a que? Ao compromisso daquela responsabilidade que disse agora a pouco? Isso é realmente pouco diante do infinito de possibilidades destilados em tiras e flashes de cérebros não corrompidos pela crença idiota do possível.

Texto originalmente produzido para o blog da banda imaginária Sinclaircity no myspace: www.myspace.com/sinclaircity

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Voltando a sala de espera...

Passei um tempo, ótimo alías, em outra realidade. Não me adaptei como deveria a essa dimensão paralela que me consumiu, logo, isso ocasionou um fim chato, inesperado, incomodo e doloroso. Sei que não vou superar isso, mais um ponto junto ao acúmulo de cagadas que é a minha vida.
Me apossei do senso comum e me afundei dentro do que eu acreditava ser o 'certo', tendo como resultado o inesperado transmutado em tédio. Tinha certeza que isso iria acontecer. Me conheço bem de mais para dizer o contrário. É notória dentro de mim a decepção, ela se expande e atinge sempre quem não deveria ser atingido e isso me entristece muito. Volto ao meu esconderijo, refúgio dentro de um cárcere que me apoio durante boa parte da minha vida até aqui. Exceto claro, quando alguém se dispôs a segurar minha mão por exatos 5 meses, mostrando o outro lado da vida que chamei de realidade paralela, e todos os seus prazeres. Não tinha de ser perfeito, porque nada atinge a perfeição, pelo menos nada que não seja chato, e descobri os preços e consequências da permanência dentro da realidade paralela, e eu, como ótimo pessimista, sabia que não iria conseguir arcar com as responsabilidades (preços) que começaram a surgir. Tomei uma atitude covarde, idiota e infantil, de retornar ao ponto de partida sozinho, como sempre fiz e, pelo jeito, sempre vou fazer.
Não tenho nenhum preparo para agradar alguém de verdade, o que me trouxe até aqui não me ensinou a aceitar ajuda, nunca me deixei guiar dessa forma, uma trava invisível impede a felicidade e simplicidade de ser aceito e aceitar, isso mostra que a culpa é minha. Exclusivamente minha. Não foram os meus pais, avós, tios, primos, irmãos que me traumatizaram ou maltrataram, de forma alguma, a questão aqui é o avesso disso, trata-se do meu conflito interno com demônios da infância, juventude, maturidade (ainda não alcançada) e a inevitável realidade do futuro que está sujeita a todos.
Estou ferido, cansado, desanimado e frágil, extremamente frágil. Não demonstro nenhum sentimento “nossa, você é muito frio”, já ouvi muito isso, acreditem ou não. Não tenho a capacidade de me mostrar de verdade para ninguém. Esse fato não se limita a amigos, conhecidos, affairs e afins. Estendem-se aos meus familiares também. Nunca sentei com minha mãe ou pai para desabafar, nunca disse o que me incomodava, machucava ou me deixava feliz. Nem um bom filho eu consigo ser. Ficava quieto em casa, ouvindo música, lendo alguma coisa inútil e me sentindo um tremendo de um idiota por ser assim.
Será que existe realmente um plano para todos que estão aqui? Como imposta pela cartilha de alto ajuda tão popular nos dias céticos de hoje? Prefiro minha chatice a ter que acreditar nesse tipo de bobagem. Talvez essa chatice desnecessária seja o ponto crucial, aliás, é uma das causas da minha insistência na solidão. Tenho a impressão de sempre estar incomodando, fico preocupado, não quero incomodar ninguém... resultado, sou catapultado para um limbo de desespero. Quero sair, me esforço para que isso aconteça. O pequeno detalhe é que realmente isso é mais forte do que eu... resultado, novamente catapultado para o limbo. Enquanto a peleja atravessa os anos dentro de mim, sem nunca soltar um pio, vou indo nessa. Ninguém fica sabendo de nada, a rotina segue seu destino certo. De volta à sala de espera, retomo as atividades que comecei ainda criança, cultuando o silêncio ornado a bens materiais que trazem um bem estar limitado, de curto prazo. Mas o que posso fazer? É isso que me mantém vivo.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Esboço de um sentido

Onde nada acontece
Preso no fardo e nos calos
Feridas desfloram deliberadamente
Impedem olhos de executar sua função

Soltas onde você não está
Brotam em mim como larvas em fruta podre
Os mortos estão no lugar certo
Cumprindo o papel designado

Não me enquadro
Não há esforço válido
Hematomas se espalham
O corpo continua se movimentando

Nos cantos ouvindo berros
Zelam pelo impetuoso dever
Legado pesado de quem não quer ser
Opto sempre por desistir

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Inspiração maior...



L.G.

Making Promises

People think i'm such a mess
It doesn't make any sense
'Cause i don't see
That me

I am just a fragment
Of my imagination
And what i see
Is what i see

I've got this thing with
God and cigarettes
Making promises, making promises
Making promises

People make me think of me
As something i don't wanna be
But i can't
I can't be that

Then they say i feel too much
You're like a wine you shouldn't touch
But i don't see
The problem

I've got this thing with
God and cigarettes
Making promises
Making promises

I don't believe those
Bunch of broken hearts
Give it up, give it up
Making promises, making promises

(Lisa Germano)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O texto abaixo

O texto abaixo, não muito bem construído, diga-se de passagem, mas que na verdade trata-se de uma experiência, nunca antes me aventurei em textos desse tipo, crônicas, contos e afins bizarros. Escrevo uma vez ou outra algumas coisas, divagações, dissertações, poemas, como tentativa de tirar um peso que assombra minha vida. Não é 100% satisfatória essa fórmula, só que dá pro gasto! Uma bela noitada regada a álcool e alucinógenos é muito mais relevante, afirmo! Mas gosto de idéia de expressar o que sinto, mesmo que de forma vaga, enigmática ou outras definições à escolha, é o meu quebra-galhos essa válvula de escapa pouco e mal utilizada, pela qual me atrevo a penetrar e jorrar por aí, virtualmente falando é claro. Voltando ao texto abaixo, utilizei de forma diferente o pronome 'eu'. É certo que já foi usado tal pronome em textos anteriores, poemas, divagações, dissertações o mesmo lenga lenga aí de cima. Só que dessa vez senti algo diferente utilizando o 'eu' com algo que realmente aconteceu, não foi apenas uma idéia que surge de um lapso, foi real. Quase tudo que escrevo baseia-se em algo que aconteceu, que vi nas quebradas, paranóias pela qual passei e blá blá blá, mas sempre baseado (entenda como quiser). Um fragmento que vira um poema, uma imagem que vira um texto raivoso, alguma coisa que vira alguma coisa. Nunca uma reprodução exata, com leves tentativas de adoçar e enfeitar, sim teve isso, mas uma reprodução do me aconteceu, do que realmente senti e quis reproduzir do jeito que vi, ouvi e senti. Isso é novo aqui, na pacata existência.
Minto o que sinto, quase sempre! O ciclo que freqüento vê e conversa com um cara alegre, brincalhão que adora cerveja e fazer piada de tudo... por puro desespero! Esse cara é apenas a projeção do que eu realmente gostaria de ser... ao menos feliz. Não feliz do jeito desesperado de ser feliz, falo feliz de maneira plena. Impossível, eu sei, esse desejo nada mais é do que uma motivação, o mais próximo que consigo chegar de uma meta, para manter o pouco de dignidade que tenho. O sorriso construído no rosto? Pura formalidade. É o que as pessoas gostam na verdade, não é? Como quando encontramos alguém que conhecemos, não muito bem, o suficiente para gerar um aperto de mão e uma breve conversa, que é sempre assim - E aí, man? Como tá, cara? Tudo certinho? Tá trampando? Putz! Sei como é... é foda, né? Foda, cara... difícil pra cacete... man, tenho que correr, sabe como é, né? Vida de peão é foda, tá ligado? Tô indo, nós vemos pelas quebradas ae, até, man... Uma conversa simples, com sorriso no rosto, descompromissada, rápida que dá a entender "Porra... o cara é gente fina... total correria, firmeza o cara"! Uma impressão rápida e caricata. Não entendam mal, não estou chamando ninguém de falso. Olha só a piração, como se alguém lê isso aqui, ilusão transcendendo o que realmente sou. Rá! Piadas rápidas também funciona na construção de um caráter apresentável, o real está sempre escondido entre sonhos, ilusões, como essa que acabei de ter, e pseudo-metas, como a que acabei de apresentar. Isso é assunto para outro texto, ou conversa de boteco.
Retomando a sensação de repassar uma experiência boa que tive, não são muitas, pode acreditar, me deixou empolgado e ansioso por mais. Não prometo, porque é uma bobagem, além do que seria uma promessa para mim mesmo, ou seja, tentativa idiota de consolo em cima do nada, mas realmente quero voltar a me aventurar nesse tipo de texto, voltar a utilizar o 'pouco provável', talvez temido, pronome 'eu' para apontar a direção que seguia, onde estava antes e o que passou durante, como sendo nova forma de alívio temporário e limitado, só que válido! Acho...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Crônica de um apagão

Fiquei no escuro? Claro que fiquei no escuro, e como faz falta um pouco de luz em nossas vidas, mesmo que por apenas algumas horas, é desesperador para alguns, poesia visual para outros e simplesmente comédia para uns e outros.

Eu, como um ser perfeitamente urbanizado, morador do centro, pude presenciar, notar, imaginar, entender, subentender e participar de um dos momentos improváveis e extraordinários que envolvem a vida, do tipo que marca, sabe? Mesmo sendo apenas uma bobagem para a grande maioria, ainda há um pouco de sensibilidade para detalhes dentro dessa casca oca e repugnante que circula por aí.

Resido no 29° andar, no escuro a visão vai além, assim como todos os instintos de percepção. O escuro revela novas formas, imagens surgem em meio ao nada, imagens que sempre estiveram ali, ofuscadas pelo universo iluminado da cidade, mas não dessa vez! Dessa vez puderam brilhar para quem teve a oportunidade de prestar atenção.

Luzes de emergência piscavam em alguns prédios, transformando a paisagem em um imenso pisca-pisca como utilizados em árvores de natal e enfeitam sacadas, a confusão no transito, em diversas vias, de longe se podia ver um imenso corredor de luzes, brancas, amarelas e vermelhas, em vários pontos da cidade fazendo uma festa particular involuntária, proporcionada gratuitamente pelos faróis dos carros. Havia estrada onde eu sempre imaginei que não havia nada. Sempre imaginei o oculto da cidade, mas nunca pude prestar atenção como pude na noite de ontem (10/11/2009).

De um prédio, um grito, partindo de alguém invisível "Ae, acende a luz ae cacete, tá escuro aqui", outro invisível grito de outro prédio respondia "não dá, acabou a energia, acho que você não percebeu". Humoristas obscuros se pronunciando para sua imensa platéia invisível. Saudosistas "Que saudade da Light!", prontamente respondidos "Cala a boca ae, aqui é Maluf" e retrucados no ato "Maluf e Lula é tudo igual, pergunta pro Kassab ali na prefeitura" “Vai Palmeiras". Gritos que ecoaram pela noite realmente escura sem interrupções, para deleite ou ira dos espectadores, também anônimos.

Pude notar também o rebolar das velas refletindo em janelas distantes, e o imenso fogaréu da usina Petroquímica tocando o céu. Por um momento pensei se tratar de um grande incêndio, possível causador de toda confusão, que não é confusa, apenas diferente dos costumes e padrões elétricos ditados pelo progresso.

São tantos os detalhes que transcenderam a si mesmos, um festival do verdadeiro underground acontecendo para quem quisesse se aventurar. Posso imaginar o que cada pessoa atravessando a rua, no apartamento ao lado, nas janelas do prédio em frente, estava pensando, reclamando ou fazendo. Um verdadeiro circo de sensações, atrações particulares direcionadas ao escuro. Zilhões de ligações para reclamar, instinto básico do cidadão moderno, reclamar de tudo, talvez para preencher um pouco o vazio interno, ou apenas por distração, mas por um momento os celulares também não funcionavam, ponto para o personagem principal dessa pequena crônica. Lasers, atualmente proibidos, dançaram livremente pelos prédios, mostrando sua força e beleza em projeções de inúmeros tamanhos.


Uma diversão, uma experiência na verdade, não vivida pela primeira vez, no meu bairro de infância, sempre que faltava luz, todas as crianças saíam de suas casas para celebrações e brincadeiras pelas ruas escuras. Quando voltava a luz todos moradores do bairro comemoravam em coro com o mesmo grito. Foi enorme a comemoração da chegada da luz, talvez por saudade da TV, da Internet, farra, ou sei lá, tenho que confessar que gostei de reviver essa experiência. Sozinho, da escada de incêndio externa do prédio onde resido, eu pude notar coisas imperceptíveis, ouvir sons inesperados, resmungos e piadas ecoando de autores invisíveis, mas que irão se gabar pelo feito em seus trabalhos e ciclo de amigos, imagens novas que ficarão gravadas na memória e o ar romântico de uma noite escura de verdade. Luz acendendo na esquerda, apagando na direita, uma verdadeira orquestra sem maestro que pude presenciar.

A luz voltou? Claro que a luz voltou! Junto com a energia elétrica milhares de explicações, apontamentos, deduções, todos querendo uma posição plausível, todos querendo saber o responsável. Porque, como é de praxe, as reclamações serão encaminhadas para o setor responsável.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Fragilidade em rascunho

Contento-me com os dias claros que já passaram
Incessante busca por entre ruídos impossibilitam evoluções
Frustram o que poderiam ser incentivos
Moldando em desgosto a inspiração temporária

Sorriso desfeito
Meus olhos procuram mais uma vez o chão
Um céu sem nuvens se formou
A volta para casa está cada vez mais pesada

Os dias claros se dissiparam
Não os sinto como leveza, apenas como consolo
Uma leve lembrança esconde o fardo do que virá
O futuro que nunca será

Já é passado o que disse sobre dias claros
No chão permanece o que foi derrubado
Um corpo surrado e sem valor
No céu frio egoísta que criei abaixo de tudo

São inferiores os dias citados
Neles alcei à ira retraída em asco
Sendo o que realmente me encanta
Abandonado a glória humana

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O meio deselegante do comportamento

Ríspido, chato, antiquado... Logo... Inapto a essa forma/ser que hospedo.
Sem vontade de ser a maioria e totalmente sem saco para suportar a massa pedante predominante na minoria. Hostil, por ser hostilizado aos olhos alheios preocupados unicamente em mostrar, mostrar, mostrar! Eu, eu, eu! Nunca compartilhar. A aglomeração insuportável de ‘multi-tudo’ (entende-se também como classificação ilusória a artistas de diversos talentos) que prolifera em cada poro da vida artificial, que também habito, eleva cada vez mais o meu asco as vistas interessadas em algo mais. Não há algo mais aqui! Portanto nem perca seu precioso tempo se acha que uma revolução começará ou se você ‘gênio’ revolucionará algo além do seu próprio ego. Ego cada vez mais inflado, sufocando sentimentos, deixando invisível o rosto que um dia foi inocente o suficiente para causar frisson entre adultos (óóóóóóóóóóó que fooooofoooo). Se fosse possível prever o que acontece com cada indivíduo, entenda da maneira mais egoísta e apática, a terra estaria livre de muita coisa. Não sou o único com esse sonho, nem o único que disse isso, mas não quero inovar em nada o que não inventei, não domino, não sei e não tenho interesse nenhum em me aprofundar... Simplesmente fácil de usar e de livre acesso, o suficiente para me apoderar da ferramenta e apunhalar em estocadas violentas o que me atinge, ou tenta atingir.
Meu humor é ótimo, vai bem obrigado, mas a questão é que o foda-se e o vai se foder vão bem a calhar agora. Isso até me dá inspiração nova para encher isso aqui de poeminhas fúteis de desilusões inúteis... Pois é.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Digressão

Vai
Num vago passo
Busque em sua aflição
Enquanto seu sangue é derramado
Deliberado
Escore o que sentir
Em qualquer coisa que considere sólido
Sóbrio
Desafogue o respirar dos seus olhos
Inúteis
Procurando refugio no que é belo
Mas inexistente
Solte o que te preenche
Deixe o vazio em seu trono
Sem domínio
Sobre a vida que te cerca
Não resta mais o que esperar
Nem corpos pelo chão
Nem tom alaranjado ao fundo
Raso
Por um fim no dia
Já não é o bastante
...
Encontre-me no seu silêncio
Sorrisos não me afetam mais

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Até o que virá

Eu vejo o envelhecer
Sinto tudo ao meu redor, inclusive eu, apodrecer.
Imagino o estágio final de cada coisa
Vejo o inevitável acontecer
Antes de acontecer
Reparo no que me tornei
No que me tornarei
No nada que criei
O nada que serei
Ninguém... Vazio...
Agora, aqui, espero o que virá.
Esqueço o que disse que vejo
Invento o que sinto
Apenas para sentir alguma coisa
O desejo não me afeta
Não ouço mais
Sigo o que devo seguir
Ou que acho que deve ser seguido
Não por satisfação ou dever
Apenas por falta do que fazer

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Minúcia

Vago a beira do que sinto e não sinto
Cuidando dos lados para não se chocarem
Dividindo a penúria entre ser e viver
Não sou nenhum desses dois

Procuro na calma e no silêncio
A formula para um possível renascimento
Mas a calma é só aparência
O silêncio à distância

Tenho uma sombra além da solidão
Nas noites não me acompanha
Esconde-se nas nuvens com o sol
Uma imagem projetada ao acaso do chão

Reclamo... Subestimo... Decepciono...
Ignoro... Maltrato... Odeio...
E ninguém sabe!
Sabe?

Sou o lugar onde estou
Particularidades não vivem aqui ou em mim
Isso eu invento com o passar do tempo
Assim como minto os lugares onde vivo e sinto

Na verdade não minto tudo
Só o que digo, crio e cuido!
Cultivo um pequeno jardim ao meu redor
Ele deixa invisível o que não precisa aparecer

Sei que ninguém me vê
Atenção prestada é simplesmente educação
O que vejo é ilusão de um cérebro perturbado
Tudo fica mais interessante quando os olhos ficam fechados

Não sei de mim
Se não sei ninguém mais sabe
Vou iludir tudo até onde conseguir ir
Ser um corpo é um fardo pesado

Nenhuma palavra foi dita até agora
Os corpos se movimentaram e deixaram fragmentos
Pistas que não levam a nada de novo
Existem para ocupar espaço

Depois só resta a contradição
Um grande exemplo a ser seguido
Já que nada foi dito
O que me resta é espera e decepção