quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Esboço de um sentido

Onde nada acontece
Preso no fardo e nos calos
Feridas desfloram deliberadamente
Impedem olhos de executar sua função

Soltas onde você não está
Brotam em mim como larvas em fruta podre
Os mortos estão no lugar certo
Cumprindo o papel designado

Não me enquadro
Não há esforço válido
Hematomas se espalham
O corpo continua se movimentando

Nos cantos ouvindo berros
Zelam pelo impetuoso dever
Legado pesado de quem não quer ser
Opto sempre por desistir

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Inspiração maior...



L.G.

Making Promises

People think i'm such a mess
It doesn't make any sense
'Cause i don't see
That me

I am just a fragment
Of my imagination
And what i see
Is what i see

I've got this thing with
God and cigarettes
Making promises, making promises
Making promises

People make me think of me
As something i don't wanna be
But i can't
I can't be that

Then they say i feel too much
You're like a wine you shouldn't touch
But i don't see
The problem

I've got this thing with
God and cigarettes
Making promises
Making promises

I don't believe those
Bunch of broken hearts
Give it up, give it up
Making promises, making promises

(Lisa Germano)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O texto abaixo

O texto abaixo, não muito bem construído, diga-se de passagem, mas que na verdade trata-se de uma experiência, nunca antes me aventurei em textos desse tipo, crônicas, contos e afins bizarros. Escrevo uma vez ou outra algumas coisas, divagações, dissertações, poemas, como tentativa de tirar um peso que assombra minha vida. Não é 100% satisfatória essa fórmula, só que dá pro gasto! Uma bela noitada regada a álcool e alucinógenos é muito mais relevante, afirmo! Mas gosto de idéia de expressar o que sinto, mesmo que de forma vaga, enigmática ou outras definições à escolha, é o meu quebra-galhos essa válvula de escapa pouco e mal utilizada, pela qual me atrevo a penetrar e jorrar por aí, virtualmente falando é claro. Voltando ao texto abaixo, utilizei de forma diferente o pronome 'eu'. É certo que já foi usado tal pronome em textos anteriores, poemas, divagações, dissertações o mesmo lenga lenga aí de cima. Só que dessa vez senti algo diferente utilizando o 'eu' com algo que realmente aconteceu, não foi apenas uma idéia que surge de um lapso, foi real. Quase tudo que escrevo baseia-se em algo que aconteceu, que vi nas quebradas, paranóias pela qual passei e blá blá blá, mas sempre baseado (entenda como quiser). Um fragmento que vira um poema, uma imagem que vira um texto raivoso, alguma coisa que vira alguma coisa. Nunca uma reprodução exata, com leves tentativas de adoçar e enfeitar, sim teve isso, mas uma reprodução do me aconteceu, do que realmente senti e quis reproduzir do jeito que vi, ouvi e senti. Isso é novo aqui, na pacata existência.
Minto o que sinto, quase sempre! O ciclo que freqüento vê e conversa com um cara alegre, brincalhão que adora cerveja e fazer piada de tudo... por puro desespero! Esse cara é apenas a projeção do que eu realmente gostaria de ser... ao menos feliz. Não feliz do jeito desesperado de ser feliz, falo feliz de maneira plena. Impossível, eu sei, esse desejo nada mais é do que uma motivação, o mais próximo que consigo chegar de uma meta, para manter o pouco de dignidade que tenho. O sorriso construído no rosto? Pura formalidade. É o que as pessoas gostam na verdade, não é? Como quando encontramos alguém que conhecemos, não muito bem, o suficiente para gerar um aperto de mão e uma breve conversa, que é sempre assim - E aí, man? Como tá, cara? Tudo certinho? Tá trampando? Putz! Sei como é... é foda, né? Foda, cara... difícil pra cacete... man, tenho que correr, sabe como é, né? Vida de peão é foda, tá ligado? Tô indo, nós vemos pelas quebradas ae, até, man... Uma conversa simples, com sorriso no rosto, descompromissada, rápida que dá a entender "Porra... o cara é gente fina... total correria, firmeza o cara"! Uma impressão rápida e caricata. Não entendam mal, não estou chamando ninguém de falso. Olha só a piração, como se alguém lê isso aqui, ilusão transcendendo o que realmente sou. Rá! Piadas rápidas também funciona na construção de um caráter apresentável, o real está sempre escondido entre sonhos, ilusões, como essa que acabei de ter, e pseudo-metas, como a que acabei de apresentar. Isso é assunto para outro texto, ou conversa de boteco.
Retomando a sensação de repassar uma experiência boa que tive, não são muitas, pode acreditar, me deixou empolgado e ansioso por mais. Não prometo, porque é uma bobagem, além do que seria uma promessa para mim mesmo, ou seja, tentativa idiota de consolo em cima do nada, mas realmente quero voltar a me aventurar nesse tipo de texto, voltar a utilizar o 'pouco provável', talvez temido, pronome 'eu' para apontar a direção que seguia, onde estava antes e o que passou durante, como sendo nova forma de alívio temporário e limitado, só que válido! Acho...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Crônica de um apagão

Fiquei no escuro? Claro que fiquei no escuro, e como faz falta um pouco de luz em nossas vidas, mesmo que por apenas algumas horas, é desesperador para alguns, poesia visual para outros e simplesmente comédia para uns e outros.

Eu, como um ser perfeitamente urbanizado, morador do centro, pude presenciar, notar, imaginar, entender, subentender e participar de um dos momentos improváveis e extraordinários que envolvem a vida, do tipo que marca, sabe? Mesmo sendo apenas uma bobagem para a grande maioria, ainda há um pouco de sensibilidade para detalhes dentro dessa casca oca e repugnante que circula por aí.

Resido no 29° andar, no escuro a visão vai além, assim como todos os instintos de percepção. O escuro revela novas formas, imagens surgem em meio ao nada, imagens que sempre estiveram ali, ofuscadas pelo universo iluminado da cidade, mas não dessa vez! Dessa vez puderam brilhar para quem teve a oportunidade de prestar atenção.

Luzes de emergência piscavam em alguns prédios, transformando a paisagem em um imenso pisca-pisca como utilizados em árvores de natal e enfeitam sacadas, a confusão no transito, em diversas vias, de longe se podia ver um imenso corredor de luzes, brancas, amarelas e vermelhas, em vários pontos da cidade fazendo uma festa particular involuntária, proporcionada gratuitamente pelos faróis dos carros. Havia estrada onde eu sempre imaginei que não havia nada. Sempre imaginei o oculto da cidade, mas nunca pude prestar atenção como pude na noite de ontem (10/11/2009).

De um prédio, um grito, partindo de alguém invisível "Ae, acende a luz ae cacete, tá escuro aqui", outro invisível grito de outro prédio respondia "não dá, acabou a energia, acho que você não percebeu". Humoristas obscuros se pronunciando para sua imensa platéia invisível. Saudosistas "Que saudade da Light!", prontamente respondidos "Cala a boca ae, aqui é Maluf" e retrucados no ato "Maluf e Lula é tudo igual, pergunta pro Kassab ali na prefeitura" “Vai Palmeiras". Gritos que ecoaram pela noite realmente escura sem interrupções, para deleite ou ira dos espectadores, também anônimos.

Pude notar também o rebolar das velas refletindo em janelas distantes, e o imenso fogaréu da usina Petroquímica tocando o céu. Por um momento pensei se tratar de um grande incêndio, possível causador de toda confusão, que não é confusa, apenas diferente dos costumes e padrões elétricos ditados pelo progresso.

São tantos os detalhes que transcenderam a si mesmos, um festival do verdadeiro underground acontecendo para quem quisesse se aventurar. Posso imaginar o que cada pessoa atravessando a rua, no apartamento ao lado, nas janelas do prédio em frente, estava pensando, reclamando ou fazendo. Um verdadeiro circo de sensações, atrações particulares direcionadas ao escuro. Zilhões de ligações para reclamar, instinto básico do cidadão moderno, reclamar de tudo, talvez para preencher um pouco o vazio interno, ou apenas por distração, mas por um momento os celulares também não funcionavam, ponto para o personagem principal dessa pequena crônica. Lasers, atualmente proibidos, dançaram livremente pelos prédios, mostrando sua força e beleza em projeções de inúmeros tamanhos.


Uma diversão, uma experiência na verdade, não vivida pela primeira vez, no meu bairro de infância, sempre que faltava luz, todas as crianças saíam de suas casas para celebrações e brincadeiras pelas ruas escuras. Quando voltava a luz todos moradores do bairro comemoravam em coro com o mesmo grito. Foi enorme a comemoração da chegada da luz, talvez por saudade da TV, da Internet, farra, ou sei lá, tenho que confessar que gostei de reviver essa experiência. Sozinho, da escada de incêndio externa do prédio onde resido, eu pude notar coisas imperceptíveis, ouvir sons inesperados, resmungos e piadas ecoando de autores invisíveis, mas que irão se gabar pelo feito em seus trabalhos e ciclo de amigos, imagens novas que ficarão gravadas na memória e o ar romântico de uma noite escura de verdade. Luz acendendo na esquerda, apagando na direita, uma verdadeira orquestra sem maestro que pude presenciar.

A luz voltou? Claro que a luz voltou! Junto com a energia elétrica milhares de explicações, apontamentos, deduções, todos querendo uma posição plausível, todos querendo saber o responsável. Porque, como é de praxe, as reclamações serão encaminhadas para o setor responsável.