quarta-feira, 23 de abril de 2008

A beira dos olhos

Já não sei se meus olhos estão abertos ou não
Sinto só o lacrimejar deles inundar tudo ao redor
A cabeça pendendo para todos os lados
Abrindo buracos no espaço
Procurando um lugar pra se acalmar que não vai encontrar
Enquanto a doce ilusão da sorte vai saindo pela porta da frente
Meu corpo continua estático onde está
Exatamente onde ficou a vida inteira
Extasiado com tudo o que poderia ter tido
Sonhando com tudo o que poderia ter acontecido
Sem vista pro mar ou pra qualquer lugar
Não vou!
Deixo a ventania balançar as roupas velhas
Enchendo de poeira os desejos que tive
Inocentes ou infantis os mesmo de sempre na verdade
Um sempre que sempre muda a um leve toque
Absorve qualquer sorriso
Procura qualquer olhar
Apaixona por qualquer boca que aceite beijar
Guardando todos os dias que foram experimentados
Desde a primeira vez
Não sabe levar e não entende circunstâncias
Não consigo mais voltar pra onde nunca saí
O corpo insiste em ser material
Nada se revela em coisas concretas
Culto a corpos não vai salvar a criança perdida com o seu tempo
Tempo que perdeu crescendo
Anos destroçados deixando de existir
Trazendo na margem do que vejo o fim sem acontecimentos

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Tentativa inútil de construir um você aqui

Meus olhos percorrem o seu corpo no escuro
Minha boca procura a sua e só encontra o ar
Fazendo um arco no vazio e salivando a falta de um simples toque
Deixando a desejar o gosto amargo de lábios sujos
Mas na verdade tão doces que ardem no peito
Provocando a espera e a ansiedade de poder prová-los
Ao menos uma vez antes do amanhecer
De um lado ao outro da cama
Posso sentir seu calor invadindo o ar
Tomando todos os espaços me fazendo suar
Deixando minhas mãos vagando no vazio para desfazê-lo
Fazendo com que eu o sinta ainda mais
Quero alcançar o seu sorriso
Puxar seu ego junto ao meu e misturá-los
Para desaparecermos um no outro até não nos reconhecermos
Guardados como um segredo sussurrado ao vento
Que o espalhou em milhões de pedaços por planetas desconhecidos
Impossíveis de achar por estarmos juntos
Atravessando gemidos e uivos desajeitados
As quatro paredes que deveriam nos cercar nada vão dizer
Um suspiro inesperado revela o tempo que passou e o que sobrou
Um travesseiro, um lençol e um cobertor...
Trazem de volta o que costuma acontecer sempre
O tormento de uma noite inexistente
Na verdade só mais uma das muitas que virão
Tão vazias como eu costumo ser
Já não tem mais graça imaginar você...
Quem é você?

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Desligando Radares

Quando olhava as estrelas brilharem
Em incontáveis noites de solidão
Tentava mudá-las de lugar
Nunca consegui alcançá-las
Com minhas mãos
Criando lugares e pessoas
Fico imaginando os prédios crescendo
Isso eu invento
Ou os ventos que entortam o vento
Trazendo ao mundo novos fragmentos
Em silêncio...
O silêncio me completa
Deixo as horas partirem
Só ouvindo o meu coração
Não entendo suas batidas
Descido esperar por alguém que não existe
Fazendo e desfazendo nós em um chão frio
Então...
Convido o escuro a participar da festa
Nele tento criar formas novas para o vazio
O vazio, a minha vida, nunca se adaptou...
Volto pra casa
Isso me deixa triste
Ando por toda a cidade só por andar
Na esperança de que alguma coisa aconteça
E um novo dia nasceu
Raios de sol vão dizimando a neblina
Minha paciência não espera esse ciclo se completar
Mas ninguém acreditaria seu eu contasse
Eu nem sou eu de verdade
Tentei esquecer do amanhã
Dando voltas no nada que há por aí
Ele veio só pra me jogar no chão
Fiquei preso à mesma idéia de decepção
Então...
Fechei os olhos pra ninguém me ver
Todas as minhas certezas viraram desilusão
Fiquei anos recolhendo pedaços do meu coração
Decepcionado desapareci
Reapareci, desapareci de novo!
Reapareci porque fui obrigado
Levo a fraqueza para o lado exagerado
Só assim tenho forças para me defender
Do que ainda eu não sei
Um dia vou entender
Ou me perder de vez
Vou desligar os radares agora